Skatistas publicam manifesto pela democracia e direito ao espaço público
Na última semana a discussão sobre as eleições chegou também no cenário do skate. As maiores revistas da cultura no país, Black Media, Cemporcento, Vista e Tribo (que juntas contabilizam mais de 300 mil seguidores no Instagram) publicaram um Manifesto Pela Democracia. Skatistas como Rodrigo TX, Mônica Torres e Klaus Bohms também apoiaram o movimento.
Nele, a imprensa especializada se coloca a favor da liberdade de expressão e "contra qualquer tipo de manifestação de ódio, seja ela racista, homofóbica, machista, xenofóbica ou que de alguma maneira fira os direitos humanos". Expor o apoio em qualquer um dos candidatos ficou a cargo de cada publicação. Em conversa com Felipe Fel, skatista há 15 anos e sócio-fundador da Black Media, a primeira a se posicionar, ele pontua que ao contrário do que muitos skatistas pensam, a política influencia diretamente a cultura de rua.
"Quem acha que skate não tem nada a ver com política, é um simpatizante", explica. "O skate está na rua, tá na cidade, no dia a dia de todo mundo. O skate é parte da cidade, da rua. Quando você acha que skate não tem a ver com a política, você só vê a rua através do vidro do seu carro, você não vivencia. O skate também é sobre conversar, negociar, isso é o que a gente faz todo dia. A gente tenta negociar com o segurança que não quer deixar a gente gravar, explica que arruma a paredinha, pede só mais uma manobra. O skate é política."
A marca brasileira Crail, organiza neste sábado um evento na Praça Roosevelt, berço do skate de São Paulo, a partir das 13h, com debates para quem estiver aberto para conversar mais sobre o assunto. Por aqui, deixo alguns momentos em que a política interviu de alguma forma na liberdade de sair remando pela rua.
Proibição de Jânio Quadros
Em 88, incomodado com o barulho de skatistas que remavam próximos a Prefeitura, Jânio proibiu a prática no Ibirapuera e mesmo após uma passeata de 200 skatistas pedindo o diálogo, proibiu o esporte em todas as ruas da cidade. Tem uma matériona da Vice com entrevistas da época.
Decadência no Plano Collor
Lançado em 2010, o documentário Dirty Money | Uma Geração que transformou o skate no Brasil, mostra como a geração dos anos 90 sobreviveu ao Plano Collor. "Os campeonatos tinham as piores infraestruturas possíveis. As peças eram usadas até o limite do possível. As revistas e os patrocinadores sumiram. Restou só o sonho."
Morte de Marcos Suco
O skatista Marcos Suco, vítima da truculência e da posse irresponsável de uma arma de fogo, foi morto com dois tiros nas costas, aos 17 anos, apenas por andar em um posto de gasolina desativado. O caso segue sem solução. Procure saber.
Vale lembrar que a democracia é peça fundamental para que a gente consiga ter nossa liberdade de ir e vir, de remar livre de preconceitos, de cobrar os nossos governantes e fazer críticas a eles sem levar borrachada. Isso não é possível em um governo totalitário ou em que pessoas irresponsáveis portem armas para exigir o que eles acreditam ser a ordem. De skate ou não, precisamos manter a nossa liberdade de consumo, de lazer e do espaço público, que vem evoluindo nos últimos anos por causa de batalhas ganhas dos veteranos na cena. Respeitar a liberdade é respeitar a cultura de rua, assim como o grafite, o hip hop, o hardcore. Pense nisso antes de votar.
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