Dicionário do maloqueirês paulistano
Paulistano é desses que não fala sem gíria e acha que não tem sotaque. E o vocabulário só cresce à medida que os muros diminuem. É uma mistura de maloqueirês com pajubá, de nordeste com sul, de memes com inglês mal pronunciado. Quando você vê, já disparou uma sentença que não faz sentido, mas que na rua todo mundo entende e tem empatia. Pede "por gentileza" na roda. As gargalhadas são altas. Tá metendo o louco?
Esse post começou com um desafio pessoal de uma semana sem gírias, há uma terça atrás. No dia a dia, sentenças práticas de explicar viraram frases imensas, cheias de palavras rebuscadas. Como elogiar coisas simples sem falar "da hora"? Maravilhoso é demais. Interessante é blasé. Legal? Quem ainda fala legal? Terminar a conversa no bar sem PODE CRER e começar uma história intrigante com um amigo sem MÊO. Te desafio.
Minha avó paterna era de Campina Grande (PB). Ela já partiu, mas deixou um dicionário de pequenos dialetos nordestinos como herança. Oxi, cadê a mistura? É uma das favoritas do meu sobrinho de cinco anos. Da vó Alice, de Montes Claros (MG), veio os erres arrastados. Não bate a poorrrrrta, grita a minha mãe do outro lado da sala.
Meus três irmãos, criados na periferia da Zona Oeste, não tem mais nome. Todos atendem por JÃO. Se chegar em um almoço lá em casa, vai encontrar a minha mãe se questionando por escolher carinhosamente um nome pra cada um. Mas, o boy é da Leste. E se tem algo que aprendi sobre a Leste é que ninguém nasce ou mora na Zona Leste. São DALESTE, assim, tipo um grande time de futebol, uma nação. Vale pra Sul também.
Na noite, o pajubá era lei. Era por que agora não tem hora certa para você soltar um babado, close, bafo. Mas, se disser lacrou, o elefante branco aparece na sala. O pajubá é lei em todos os horários. E tão importante quanto o lugar de fala é como se fala. As gírias dizem muito sobre uma comunidade e o respeito que ela tem pela própria cultura. Em ambientes marginalizados, é uma forma de autoafirmação e troca íntima, porque gera identificação imediata e encurta caminhos na comunicação. Busque conhecimento no Aurelia, o primeiro dicionário gay do Brasil.
A cereja do bolo é o vocabulário do jovem classe média com trampo criativo na Faria Lima e sabático na Europa com a grana da rescisão. Aí a misturada fica louca. "Pedi cerveja por um ano em inglês, como fala em português mesmo?". PRE-PA-RA. Aí vem o brainstorm de situações em que se fala mal do boss, daquele friend, do job, do brunch na padaria, do crush. Esse dicionário é ligado diretamente ao dicionário dos memes. Muito fake? Forninhos pra segurar hoje? E TEILE e ZAGA.
Fracassei imensamente na minha semana sem gírias. Mas, fui gloriosa no início do meu pequeno dicionário do maloqueirês paulistano. E você, qual gíria não consegue ficar sem?
MOH: se pronuncia como o mugido da vaca, diminutivo de maior
Dar pala: dar bandeira? como traduz isso?
PIGAS: cigarro
Treta: muito difícil, briga
DALESTE / DASUL: quem vive nos extremos dos bairros
De quebradinha: sair de bonde
Jão: qualquer pessoa
Moiô: deu muito errado
Pode crer: quando você concorda sem prestar atenção no interlocutor
Se pá: talvez não
Resenha: burocracia
Tipo: por exemplo
Mano: qualquer pessoa
Mana: qualquer pessoa
BPN: boa pa nois
Truta: maloqueiro oldschool
Sangue Bom: só o Brown pode usar com classe
Bixo: tiozão fake descolado
Boto fé: acredito muito
É quente: é quente ou é verdade
Da hora: muito legal
Cê é loko: surpresa, indignação
Parça: os amigos todos
Pode pá: é o botão de curtir na conversa
Tamo junto: conte comigo
Babado: muito surpreendente
Close: chamar a atenção, pro bem ou pro mal
Bafo: fofoca
Inhaí: oi viado, que saudade
Cafuçu: boy
Talibã: polícia na visão das travestis
Ocó: menino novo
Aqué: dinheiro
Eque: contar uma mentira
Meter o louco: tirar vantagem de uma situação
Pesado: alguém que faz algo muito bem
Mokado: manobra de skate com muito estilo
Poucas ideias: não quero falar com ninguém
Cabrero / Cabreragem: desconfiado ou andar muito bem de skate
Quebrada: periferia, comunidade é moiado falar
Alemão: qualquer branco com cara de nerd na quebrada
Bem tiller: vem do chilling, a arte de ficar sussa
No grau: muito bêbado
Naipe: maneiro
Bolado: pode ser o beck ou uma pessoa pensativa
Charrado: mais do que chapado
Xaviá: o ato de xavear
Pilaco: alguém estilosão
Perreco: mané
Rola: cair
Zica: muito azar ou pessoa muito foda
Embuste: boy chato, boy lixo
Suave: muito de boa
Tô de boa: tô suave
Firmeza: pode ser pra tudo bem ou elogio
Fluxo: começou com baile funk, mas hoje é qualquer baile bom
Fervo: é o fluxo das bee
Balada: é o fervo dos coxa
Mó dó: triste por alguém
Bad: triste por si mesmo
Bode: triste por todo o mundo
Crush: o novo paquerinha das tias
Malaco: maloqueiro de responsa
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