Rolê de mãe é onde ela quiser
Sté Reis
22/11/2018 17h39
O termo "child free" surgiu em meados dos anos 80 nos Estados Unidos e Canadá para criar uma comunidade de adultos que se sentiam descriminados por não ter filhos. Naquela época, muitas mulheres passaram a adotar o termo por questões feministas, por rejeitar a obrigatoriedade da mulher de ter uma função doméstica e familiar, marido e a corresponder a função biológica de ser mãe. Eu mesma, no auge da minha vida social, considerava ter filho meio que o fim da vida, percebia que as amigas que se tornavam mães sumiam do mapa. Até que… Engravidei.
Neste último ano, do outro lado da situação, buscando mães inspiradoras e uma forma de maternidade que também não está relacionada a um padrão social, percebi que os preconceitos e as cobranças não tornam a vida de uma mulher e mãe do século 21 mais fácil. Trinta anos passados da criação do termo, agora ele é adotado por restaurantes e rolês que não aceitam crianças e as consideram um ruído dissonante do ambiente.
Maternidade e cerveja
Priscila e Tim Tim no Quintal do Centro (Divulgação / Acervo Pessoal)
Para buscar respostas, fui conversar com a Priscila Josefick, mãe, empreendedora na Mamahood e feminista. A Priscila fez uma série de stories em que fala sobre maternidade e cerveja e mães no rolê. "Acho justo e natural um casal escolher não ter filhos, a maternidade ainda é muito romantizada e muito é exigido da mulher a postura de mãe. Se uma mulher escolhe não ter filhos, ela é julgada por não ter amor e isso é muito cruel com a mulher", comenta. "Mas, não acho legal ambientes que não aceitem crianças. A criação de uma criança é responsabilidade de toda a sociedade, nós estamos criando um indivíduo para o mundo e é saudável que ele se sinta pertencente a esse lugar. Quando um lugar não aceita uma criança, ele esta automaticamente a bloqueando presença de uma mãe e de um pai. Nós já nos sentimos excluídas, precisamos de acolhimento e respeito."
"Sempre me sugeriam um lugar mais reservado"
Em São Paulo, alguns restaurantes já sinalizam na porta quando não aceitam famílias. Apesar de barrar a entrada não ser uma prática comum, ainda é sugerido para que as mães se recolham em momentos de necessidade da criança. "Nunca fui barrada em nenhum ambiente, mas quando amamentava sempre tentavam me sugerir um lugar mais 'reservado' e isso me incomodava, porque eu não queria sair de onde eu estava, não queria me esconder". No meu caso, pior que ser barrada foram os comentários da galera para a criança como "que rolê de índio te trouxeram", "não tá tarde pra ela?", "tem que ter coragem", que são igualmente excludentes.
Maternidade além do playground
Rolê com a Mallu no CCSP
"A dose certá é me divertir e estar em consciência quando meu filho precisar de mim"
Dicas de passeios para mães rolezêras
FFFRONT
Quintal do Centro
Fatiado Discos
Na Pompeia, a Fatiado é o pico pra comer hambúrguer, ouvir um som de primeira, comprar discos e curtir um passeio acessível.
Casa do Mancha
Minha dica pra quem curte skate, exposições e rolês vespertinos. É muito comum pais que andam de skate colarem com os filhos pra andar na rua fechada.
Sobre a autora
Nascida e criada na periferia de São Paulo, Sté Reis estudou Jornalismo na São Judas e desde então escreve sobre sua relação com as ruas da capital. Se especializou em cultura underground, música e feminismo, foi repórter em UOL Entretenimento e tem textos publicados no Zona Punk, Youpix, Brainstorm9, Deepbeep, Rolling Stone, MTV e Facebook Brasil. É assistente de conteúdo do DJ Marky, do rapper Projota, e compartilha seus achados no Malaguetas, há mais de dez anos no ar.
Sobre o blog
Histórias de quem ocupa a cidade e dicas de intervenções urbanas, música, cultura pop e esportes de rua para quem encara o asfalto de São Paulo e busca novas formas de viver a capital.