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O flow afiado do hip hop LGBTQ+ de São Paulo

Sté Reis

04/10/2018 22h51

Desde o lançamento de "Aceite-C", do paulistano Rico Dalasam, o hip hop só fica mais colorido. Encabeçado pelo hit "Riquíssima" (mais de 1 milhão de visualizações), o EP de estreia de Rico, "Modo Diverso" (2014), em apenas quatro anos fortaleceu uma nova onda de artistas de flow afiado no ritmo e poesia, ganhando o mainstream com a roupagem pop e dançante.

No mesmo período, surgiram compositores notáveis como TRIZ e sua "Elevação Mental". "Família, primeiramente eu queria deixar bem claro / Que eu não to aqui pra representar o rap feminino não, certo? / E muito menos o masculino / Eu to aqui pra representar o Rap Nacional / E eu peço que respeitem a minha identidade de gênero, demorou?".

Com o único single Triz levantou a bola para muitas discussões na cena, principalmente nas mídias de música mais puristas, que questionavam a necessidade de um artista se apresentar mencionando a identidade de gênero. Gostando ou não, a verdade é que a representatividade empoderou muita gente, trouxe regras desclassificatórias para as batalhas de MC's e mais vozes pro microfone.

Mesmo sem os números estratosféricos de rappers da mesma geração, o espaço está aberto para as diss (diss track, traduzido literalmente aqui como canção de insatisfação) que carregam a mesma responsabilidade de ampliar as ideias da quebrada. Com letras que expressam dificuldades sociais, preconceito, opressão e, claro, sua forma de fazer festa, os artistas colaboram entre si com voz, letra e close, trazendo mais diversidade para o universo do hip hop.

As inovações ousadas de Gloria Groove, drag queen da Zona Leste, de voz poderosa e presença inegável, elevaram o estilo a outro nível. "O Proceder", lançado pela SB Music, é um EP tão versátil quanto Gloria, mas que trouxe hinos definitivos para o hip hop dessa década.

"Império", em que ela se multiplica entre drag e Daniel Garcia, assim como "Gloriosa", são trabalhos audiovisuais primorosos, que deram a oportunidade para a cena brasileira de experimentar o trono das produções caprichadas da realeza do rap norte-americano.

Tem ainda o Quebrada Queer, primeiro supergrupo de rap gay do Brasil, pupilos de Glória e Rico, é uma cypher repaginada na estética e com muito a dizer. Formado por Murillo Zyess, Guigo, Harlley, Lucas Boombeat e Tchelo Gomez (todos com projetos  paralelos), o Quebrada se apresentou em 2018 com o clipe autointitulado produzido pela ONG de acolhida LGBTQ+, Casa 1.

Pela visibilidade lésbica, MC Luana Hansen, da Zona Sul, teve uma trajetória dura, mas encontrou nas rimas de Sabotage e Negra Li uma porta de saída para as suas angústias. De uma geração mais antiga que Rico, mais de quinze anos de história com a música, hoje é uma das principais vozes femininas no hip hop nacional. Entre seus beats mais pesados, "Ventre Livre de Fato", que fala da legalização do aborto e do machismo.

É claro que tem muita galera boa por aí, tem alguém pra indicar? Manda!

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Sobre a autora

Nascida e criada na periferia de São Paulo, Sté Reis estudou Jornalismo na São Judas e desde então escreve sobre sua relação com as ruas da capital. Se especializou em cultura underground, música e feminismo, foi repórter em UOL Entretenimento e tem textos publicados no Zona Punk, Youpix, Brainstorm9, Deepbeep, Rolling Stone, MTV e Facebook Brasil. É assistente de conteúdo do DJ Marky, do rapper Projota, e compartilha seus achados no Malaguetas, há mais de dez anos no ar.

Sobre o blog

Histórias de quem ocupa a cidade e dicas de intervenções urbanas, música, cultura pop e esportes de rua para quem encara o asfalto de São Paulo e busca novas formas de viver a capital.

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